segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

ENTREVISTA

Yola revela sua alma a revista

Quem diria que àquela menina franzina, tão inocente e inofensiva – se tiverem dúvida repitam, novamente, as imagens em arquivo na TPA -se transformaria nessa “fera”, essa “diva” da música angolana? Ela é dona de um inquestionável talento vocal.
Carismática, simpática, humilde e persistente, como ela mesma se caracteriza, Yola Semedo conquistou com seu talento musical o coração de milhares de angolanos e não só. Ainda menina, seus pais, visionários, previram o seu futuro, lançando-a precocemente, no mundo artístico.
Integrou a banda “Impactos 4” até o ano de 2004 quando decidiu fazer seu primeiro trabalho a solo. Seis anos depois, decide revelar aos fãs a sua alma, através de uma obra discográfica singular intitulada “Minha Alma”, e confirma sua popularidade ao levar mais de sete mil pessoas à Praça da Independência.
Conheçamos um pouco mais sobre esta “diva” que se tornou uma verdadeira Moutofa (palavra que significa “Rainha” na língua nacional Kwanhama) da música angolana.
Plenitude Angola: Uáu, és muito mais bonita pessoalmente. Tens sido muito assediada?
Yola Semedo: Tenho sido sim, me orgulho poder dizer que já causei alguns acidentes (risos). Acho que qualquer mulher gosta de ser paparicada e o mais importante, para mim, é saber que todo esse assédio deve-se mais ao bom trabalho que as pessoas dizem que eu faço do que propriamente aos meu atributos físicos. O respeito e o carinho das pessoas pelo meu trabalho são o que mais me importa.

P.A:Um trabalho que de resto tem sido reconhecido internacionalmente. Já em 1985 a Yola foi galardoada com o prémio de “Voz de ouro de África”.
Y.S: Representei a África num festival infantil da canção da UNESCO, isso na Bulgária, e ali fui condecorada como voz de ouro de África.
Tinha apenas sete anos e não percebia nada do que se estava a passar no palco, mas fiquei visivelmente encantada com o “bouquet” de flores, entregue a mim. Interessei-me pouco pela estatueta e o diploma, igualmente outorgados. “Pequenina” “fiquei deslumbrada com as flores”.
Aquele prémio e tantos outros recebidos, só têm sido possíveis, devido a tradição musical familiar. Meu pai foi professor de música e minha mãe corista, por isso comecei a cantar muito cedo.

P.A: Por sinal o sucesso não mais parou, por três vezes foi considerada a melhor voz feminina, isso nos anos 2000, 2006 e 2007, consecutivamente.
Y.S: A música sempre me trouxe alegrias, é sempre uma enorme satisfação receber prémios do género, ser reconhecida pelo que fazemos, isso dá-me força e serve de motivação para continuar esse trabalho que faço com muito amor e carinho.
É gratificante ter o carinho de todo mundo e sermos respeitados por aquilo que fazemos, queremos todos ser úteis a nossa sociedade, mas confesso que não senti muita diferença com esses prémios porque eu cresci na música e ela sempre foi a minha vida.

P.A: Que ambições tens para carreira profissional como cantora?
Y.S: Bem, o meu objectivo é sempre melhorar e continuar a receber o respeito de todos aqueles que gostam de me ouvir cantar. Comecei a tocar piano aos 11 anos e tenho intenções de desenvolver mais o meu desempenho, uma vez que tenho dedicado mais as minhas energias ao canto do que ao referido instrumento.
P.A: Sei que começou a cantar muito cedo, mas como foi que realmente tudo aconteceu?
Y.S: Já não me lembro o ano, sei apenas que estava eu a jogar a bola e o meu pai, recolheu-me ao aposentos e começou a tocar aquela que viria a ser a minha primeira música, intitulada “a minha boneca”. Eu não estava a entender nada, até então nunca quis nada com a música, queria ser tudo menos cantora, mas no final percebi que o meu dom estava naquilo que eu menos gostava. Eu devia estar com uns seis “anitos” na altura.

P.A: Quais as maiores alegrias que esse dom já lhe proporcionou?
Y.S: A minha carreira é longa, são 24 anos, e ao longo dela tive muitos momentos bons e o exemplo mais recente foi o convite que me foi feito para representar Angola num espectáculo que aconteceu nos Emirados Árabes. Ver ali pessoas de outras culturas a dançar a minha música e a conviverem comigo, foi simplesmente gratificante. No final eles vieram dizer que gostaram muito, senti que mais uma vez fiz o meu trabalho da forma mais digna.

P.A: Como se sentiu ao entrar em estúdio pela primeira vez?
Y.S: Não foi uma experiência muito boa, pois eu era muito pequenina, acho que deveria ter aproximadamente 8 anos, foi depois do festival da canção. Quem é músico sabe que é muito cansativo. Se para os mais velhos é cansativo, imagina para uma criança… São horas e hora de espera, mas agradeço aos pais que tenho e que me deram muita força.

P.A: Seu último trabalho discográfico tem como título “Minha Alma!”, alguma razão especial?
Y.S: Minha alma por quê? Porque tentei passar um pouquinho daquilo que realmente sou em cada uma das músicas e os 25 anos de carreira me deram a sabedoria para tornar essa obra discográfica da forma como eu queria. Espero que aqueles que obtiverem esta obra consigam entender as mensagens, o valor que esse CD tem para mim, porque eu despejei a minha alma neste trabalho.

P.A: Considera ter alcançado já o apogeu da sua carreira?
Y.S: Por enquanto sim. Eu acredito que nós vivemos no presente a pensar no futuro, mas a minha música eu faço mesmo para o presente. Gosto de dar passo á passo não gosto de meter a carroça a frente dos bois, para este instante o “Minha Alma” espelha tudo aquilo que eu tentei passar às pessoas quer em termos de qualidade quer em termos de mensagens. Para amanhã veremos o que há de vir, por agora este é o grande sucesso.

P.A: Você tem um talento natural, uma voz melodiosa, mas muitos que também o tiveram, ficaram para trás, no seu caso qual o segredo de tanto sucesso, quase de forma ininterrupta?
Y.S: A música faz parte do meu ser e eu amo-a, Agradeço a Deus por me ter dado este dom. Penso que quando deixamos de acreditar neste dom como uma dádiva de DEUS e começamos a olhar para ele como uma forma de sustentabilidade dá tudo errado. E isto aplica-se em todos as profissões, Se deixamos de fazer as coisas com amor dá errado.
A música para mim vem em primeiro. Não gosto de correr, pelo contrário, gosto de ver as coisas a acontecer e sou o maior espectador, trabalho de forma humilde, sem pisar em cima de ninguém.

P.A: São notórios os momentos altos da sua carreira, houve algum momento baixo ao longo dela?
Y.S: Com certeza! O mais difícil foi sem sombra de dúvidas ter perdido o meu pai um mês antes de eu ter lançado o meu primeiro trabalho a solo, isto em 2006. Foi muito difícil para mim porque ele foi o grande mentor de toda esta minha trajectória e não ter a oportunidade de mostrar-lhe aquele CD foi mesmo difícil. Mas eu creio que ele esta sempre comigo.

P.A: Que projectos novos tem em carteira?
Y.S: Pretendo ajudar os novos valores a terem sucesso. O nosso mercado está a crescer muito rápido mas ainda não está com uma estrutura muito sólida e não é fácil para quem quer começar.
P.A: É impossível falar da sua carreira sem mencionar os “Impactos 4”, o que esse grupo representa para si?
Y.S: Os Impactos 4 é a minha vida, é uma banda feita por irmãos. O meu pai como é de conhecimento foi professor de música, formou várias bandas. Os impactos 4 é o grupo que ele formou com os seus próprios filhos (o Jorge, Alcino, a Eduina e depois a Yola). Mas quando comecei a tocar, por ser a mais nova que os meus irmãos, obviamente comecei a faze-lo mais tarde, comparativamente aos outros. Só quando fomos à Namíbia passei a fazer parte dela. Ela continua, até hoje, não tem como parar, porque é a herança que o nosso pai deixou e seria muito triste esquecermos os nossos princípios.

P.A: Quais os artistas nacionais e internacionais que mais lhe inspiram?
Y.S: No Brasil gosto da Alcione, nos Estados Unidos da Rita Franklim, Sisi One, a Byonce, e a nível nacional tem a Ary, a Pérola, Heave C, Anselmo Ralph, resumindo e concluindo como cresci nela tudo que é boa música é sempre proveitoso para o meu ouvido.

P.A: Falemos agora sobre sua vida particular… Como é a Yola longe dos palcos?
Y.S: Bem, fora dos palcos sou uma mulher batalhadora, uma sonhadora, humilde e que gosta de conviver com as pessoas, com a minha comunidade, e fazer sempre o melhor para não prejudicar ninguém.

P.A: Como você se caracteriza?
Y.S: Sou uma mulher persistente, aliás os meus pais disseram que sempre fui uma criança muito resoluta, eu não procuro problema, mas se os tiver vou até a última gota para resolvê-lo. Também sou uma pessoa muito humanitária, quando posso estender a mão, não exito.

P.A: Seu coração já tem dono?
Y.S: Tem sim, o meu coração pertence a Deus, estou a ser sincera, mas o meu afecto e o meu carinho pertencem ao Carlos Dias que é o meu parceiro de longa data, é uma pessoa que esta sempre do meu lado, acredito que é o meu anjo da guarda.

P.A: Como é a vossa relação? Pensam em casar-se?
Y.S: Tenho um relacionamento muito saudável tenho a sorte de ter encontrado um parceiro que me entende é mesmo a minha cara-metade, eu sou explosiva e ele é mais passivo, ele ajuda-me a reflectir, a criar ideias, é do tipo de pessoa que está acima das minhas expectativas. Todos os dias o Carlos surpreende-me mostra que é uma pessoa de uma personalidade muito forte. E peço a Deus que o dia em que resolvermos ter filhos, que ele passe todas essas virtudes a eles.
E quanto a casar, claro que sim. Acredito que a nossa relação é abençoada, pois já estamos juntos á 14 anos.

P.A: Lembra-se de alguma cena caricata que envolveu um fã?
Y.S: Lembro-me sim, a mais recente foi na secção de venda e autógrafos do “Minha Alma” em que uma rapariga foi me dar dois beijinhos e desmaiou no meu colo. São coisas assim que marcam muito e me faz agradecer todos os dias a Deus por me dar essa oportunidade.

P.A: Como lida com a fama?
Y.S: Por ter crescido na música dou graças a Deus por ter bases suficientes para aguentar a fama, pois ela é terrível e se não tivermos um “background” muito forte acabamos por nos perder, mas como eu cresci na fama, lido com ela com muita naturalidade. Convenhamos, não é fácil, há vezes em que queremos relaxar, ter um momento só nosso, e as pessoas esquecem-se de nos dar um pouquinho de espaço, mas é bom, antes isso do que olharem para nós de forma negativa.
P.A: O que a Yola faz nos tempos livres?
Y.S: Gosto muito de ginásio, muita ginástica, nos tempos de verão vou muito a praia, gosto de cozinhar, gosto de ver desenhos animados e não gosto de ouvir música em casa.
P.A: Que prato gosta de confeccionar?
Y.S: A minha especialidade é feijoada.